O casal

O casal 

A paparazzi em Belgrado

acerta o ponto de vista

com clique bem enquadrado

da bacana e seu artista.

Estão tão descontraídos

lembram um casal perfeito...

"menos!" berram os sabidos

"não há isso, não tem jeito!"

Anos de cumplicidade 

que o casal quis e viveu

ninguém, porém, é em verdade

feito Julieta e Romeu:

há alguma desavença 

que lhes deixam infelizes 

mas há o amor, benquerença 

não obstante as cicatrizes. 

Sempre foi moinho o mundo

que às vezes mói a fundo

mas também é um rebite

que ao unir reabre o apetite.

Este, portanto, é o perfeito

casal! Ouviu, seu sabido?

Não por não ter um defeito

mas com eles ter vivido.

Dançarina Espanhola

Dançarina Espanhola

Rainer Maria Rilke

Como um fósforo a arder antes que cresça

a flama, distendendo em raios brancos

suas línguas de luz, assim começa

e se alastra ao redor, ágil e ardente,

a dança em arco aos trêmulos arrancos.

E logo ela é só flama, inteiramente.

Com um olhar põe fogo nos cabelos

e com arte sutil dos tornozelos

incendeia também os seus vestidos

de onde, serpentes doidas, a rompê-los,

saltam os braços nus com estalidos.

Então como se fosse um feixe aceso,

colhe o fogo num gesto de desprezo,

atira-o bruscamente no tablado

e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,

a sustentar ainda a chama viva.

Mas ela, do alto, num leve sorriso

de saudação, erguendo a fronte altiva,

pisa-o com seu pequeno pé preciso.

art hamish blakely

Vão-se oito anos...

Vão-se oito anos…

Vão-se oito anos, o tempo voa

e faz com que a vida seja breve. 

A saudade, é certo, ainda ecoa

mas felizmente é bem mais leve

por recordarmos do teu abraço,

do teu mais acolhedor olhar. 

Em nossa cabeça sempre há espaço

pra, com carinho, de ti lembrar. 

Cremos, porém, que estás em paz

velando por nós, provavelmente, 

e crer nisso, bem eu sei, nos traz

conforto ante um mundo mais demente. 

Magnetismo.

Magnetismo. 

A mulher linda é um ímã 

meus olhos são o outro polo.

Anseio, porém, que acima

de tudo os inspire Apolo

o deus grego da beleza,

da forma – que paralisa 

o meu olhar com surpresa

se a graça, o encanto divisa.

Mas que a recusa do rude,

do vulgar seja essencial,

mesmo sensual, nunca mude:

em sagrado ritual

extraindo a quintessência

do que é frágil e mortal

– a nossa breve existência –

contemple sem ser banal. 

O álbum de fotos.

O álbum de fotos

Fugaz é a vida.

Pela permanência ansiamos

em contrapartida.

A lente captura

o esquivo e se cristaliza 

no álbum brochura

ou do celular

que ao revê-lo se repara

a vida voar. 

Em Tirana

 Em Tirana

Se um vinho sequer

nem quiser degustar, eis

uma zero sheqer.

Vade Retro!

Vade Retro!

Neguemos a guerra

vade retro, vil sionista

e vê se nos erra!

As modelos

As modelos (1) 

Registro com zelo

em Lady of the Rocks a

dupla de modelo

As modelos (2)

Sentadas no chão

as modelos folgam do

puxado rojão.

O par

 O par

Há similitude

nelas: não cansam nem sentem

fome. Haja saúde!

Parça

 Parça

Parceira na dor
ai! A disposição dos 
outros é um horror!

A sequência suspensa

A sequência suspensa

Paparazzi: "pensei em publicar no grupo dos viajantes essa sequência da Alaisinha e o do Leonardo, mas olhando melhor, decidi não publicar porque achei que eles estivessem discutindo e publiquei só a última foto. Mostrei para ela que negou que estivessem discutindo e riu. Mandei-lhe a seguinte interpretação:

1ª foto: a princesa tenta conversar com o princeso que não dá ouvidos;

2ª foto: ela se aproxima, insiste e ele, pelo menos, vira a cabeça, parecendo ouví-la;

3ª foto: dito o que queria dizer, a princesa se volta aliviada e o princeso fica pensativo."

Paparazzi: "A interpretação foi errada, mas foi criativa, não foi?"  Ela: "Demais!"

Em Vodici

 Em Vodici

Regina passeia

e os paparazzi se escondem

no mar ou na areia.

* Como ela não se manifestou em relação ao bem humorado haikai, mandei essa mensagem para ela: Regina, não se preocupe, não haviam paparazzi escondidos no mar ou na areia, a foto original é essa, eu só aproximei você:

O viajante contumaz.

O viajante contumaz

Mesmo aos setenta

o gajo só pensa em voar

e nunca se assenta.

Em Sarajevo.

Em Sarajevo

 Gochinha e Gocho

ela sempre atenta ao seu

real pintarroxo.

Minha Senhora do Amparo

Minha Senhora do Amparo

Com dor e cansado

o viajante é, por sua dona

zelosa, amparado.

O Ressuscitado

O Ressuscitado

Compro o Bizantino

Crucifixo que ontem vi.

Com ele me afino:

Deus ressuscitado

tem significado mais forte

do que inanimado

porque invencível!

Ainda que a sua mensagem

pareça implausível,

sem prioridade,

estará no coração

dos de boa vontade

– vital minoria

de cujo fogo sagrado

grassará um dia.

* Ontem, no agradabilíssimo jantar de confraternização dos viajantes dos Bálcãs no apartamento da Claudinha, me deparei com esse Crucifixo que há algum tempo me chamou a atenção por não ser o Cristo morto, mas ressuscitado. Andei procurando por ele, mas sem saber como chamá-lo, o descrevia como o crucifixo do Cristo ressuscitado, as vendedoras nunca sabiam. A Claudinha me disse que era conhecido como o Crucifixo Bizantino e me falou do que se lembrava das referências que tem nele sobre história cristã. 

Hoje de manhã bem cedo, fui ao Shalom e, com o nome em mente, facilmente comprei. Cheguei em casa, coloquei na estante, fotografei, admirei e, para ficar o registro, fui fazendo esse poeminha simples sobre o efeito que ele exerce em mim. 

Dedico então o poema às mulheres e aos homens de boa vontade que acreditam na mensagem solidária do Cristo, que são minoria marcante, haja visto o genocídio em Gaza, televisionado, que o mundo não consegue parar, também as guerras em curso e os maus valores que estão sendo resgatados e chegam até nós… mas mesmo sendo minoria os de boa vontade, esse núcleo de “amorização”, como dizia o padre francês Teilhard de Chardin, se espalhará como uma faísca inicia e se espalha num incêndio formidável. Esta é a minha esperança sobre a mensagem do Cristo.

A solidariedade

A solidariedade

Atravesso a Ponte

 Velha e vejo um solidário

à Gaza, defronte.

O coração da direita

Busco, pela estrada 
da vida, notícias da 
direita ilustrada.

 
Quero o meu contrário, 
unir-me a ele na voz 
contra o temerário

  
algoz insolente 
do infanticídio de Gaza 
- a dor mais pungente!

 
Na tristeza, ciente 
do inútil, cedi: nenhum 
agravo eloquente. 

O desalmado

Eu e tu – quase almas gêmeas

considerei – não te indignas

com criança que geme às

investidas malignas

da diabólica quadrilha

nazi-sionista no seio

da Palestina, que a pilha

diuturnamente sem freio

tudo televisionado

em tempo real e a cores!

Não te vejo incomodado

sequer avalias as dores

deste povo desarmado?

Não, fulano, nada a ver

pareces um desalmado

nem reconheço você!

A homenagem

A homenagem

O normal conflito

de geração zera aqui

na terra de Tito.

Havia gente antiga

gente jovem que ao fim e ao 

cabo fica amiga.

Mais jovens na viagem,

por sua interação com todos

a nossa homenagem

à Alais e ao Leonardo

e o afetuoso beijo e abraço

deste amigo bardo.