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terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Pequenas reflexões sobre a mamãe



Em 05/07/2017

Alguns dias depois de nos deixar, cai a ficha e sinto uma enorme saudade da mamãe. Eu esperava que ela conseguisse comemorar seus 91 anos logo mais no dia 17 de julho. Penso em suas diversas qualidades que pude constatar em minha relação adulta com ela nos seus últimos trinta anos que sobreviveu ao papai, de 1987 a 2017. Duas delas me surpreenderam e se destacaram: a autossuperação e a aceitação dos limites impostos à sua vida pelas suas doenças. 

Como a grande maioria de suas contemporâneas, mamãe dependia do marido para quase tudo e ao perdê-lo, depois de um período de doloroso luto, conseguiu dar a volta por cima, se autossuperar, se tornando uma mulher independente, recuperando seu brilho, que eu imaginava que ela não recuperaria, retomando a sua sociabilidade de agradável leveza, testemunhado por vários diferentes grupos de amigos que passou a frequentar, sem jamais relegar a um plano secundário o convívio com seu próprio núcleo familiar ao qual dedicava especial atenção. 

A outra qualidade, a aceitação dos limites impostos pelas doenças, uma delas a fibrose pulmonar, para mim foi mais surpreendente ainda, porque depois das sessões de pulsoterapia, a administração de altas doses de corticóide na veia, que pude acompanhá-la e constatar sua monumental paciência, houve um ritmo acelerado de restrição à sua capacidade locomotora, já que afetava extraordinariamente a neuropatia, a outra doença que ela era portadora. Para ela que tinha uma vida cheia de afazeres que cumpria com admirável vitalidade, deve ter sido um suplício abandoná-los. Mas ela nunca reclamou, sempre aceitou as seguidas e crescentes limitações estoicamente. 

A dependência de oxigênio passou a ser constante. Havíamos decidido que não a hospitalizaríamos, daí porque montamos um home care completo. O caso dela era tão grave que no deslocamento da cadeira, onde ela passava boa parte do dia, até a mesa para fazer as refeições, havia uma queda substancial da saturação de oxigênio no sangue, dos normais 94% aos perigosos 64%, correndo o risco de infarto. 

Um dia, acometida pela pneumonia, teve que ser acamada. Dalí não mais saiu, mas sempre consciente nos recebia com um sorriso otimista. Durou em torno de duas semanas, assistida por todos nós e acompanhada com dedicação intensiva pelo neto médico, Marcos, nosso filho que teve que se desdobrar­, já que sua avó materna, D. Alice, foi também acometida pela pneumonia, ele tendo que assistir as duas simultaneamente, saindo de uma e correndo para a outra. 

Ao ver mamãe morrer nos braços de meu filho, me veio a seguinte reflexão: ela havia nascido sob os cuidados do grande médico da época, o Dr. José Frota, avô da Gilda, que se tivesse a capacidade da premonição poderia ter dito: “assisto chegar ao mundo a avó paterna do meu bisneto que, como um gigante profissional dedicado, a assistirá ao deixá-lo.”

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