A delicadeza da arte
Impressiona o fino
manto que o mestre da pedra
deu como destino:
um diáfano véu
em Carrara que vela a
Rainha Isabel
A delicadeza da arte
Impressiona o fino
manto que o mestre da pedra
deu como destino:
um diáfano véu
em Carrara que vela a
Rainha Isabel
No Santuário, oro
sob as árvores. Por minha
própria fé, imploro.
Depois do acordado
silêncio, o terço segue
em tom modulado
pela teologal
virtude da esperança
de que haja um sinal
triunfal dos pedidos.
Iridescente, o céu declara:
serão atendidos!
Antes que seja tarde
Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.
MANUEL DA FONSECA, in POEMAS DISPERSOS (1958); in OBRA POÉTICA (Ed. Caminho, 1998)
(Dedicado ao Ricardo)
Dá medo, sim, diz o bardo
mas há trilhas nesse escuro
no presente pesa o fardo,
leve e com luz no futuro.
Foi na beira de um abismo
que alguns descobriram asa
e com arrojo e otimismo
saltaram… e o medo vaza!
Na adversidade convém
tomar caminho ousado.
Não é impulso, porém
é só o medo encarado.