quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A fogueira


Esse poema tem uma historinha. Em 2003, tardiamente, eu concluía o curso de direito. Meus colegas mais próximos eram todos provenientes do interior, gente de convívio simples e conversa amena. Um deles, com quem eu mais afinava, tinha oito anos menos do que eu, mesmo assim bem mais velho do que a média da turma. Assim como eu, ele era casado. Clássico e ousado paquerador, um dia me anunciou que estava namorando. Ri, preveni que ele ia se apaixonar e apartar em banda, o que era muito provável porque nossas colegas eram muito jovens, espertas e lindinhas. Seguro de si, ele me contestou, “deixe comigo, Caiado”. Era com essa ironia – por eu defender ideias de esquerda, em alusão ao político da bancada ruralista de direita, Ronaldo Caiado – que ele me chamava. No final do ano, nos graduamos e acabamos nos perdendo de vista. Só três anos depois é que nos encontramos casualmente. Aproveitamos para tomar uma cervejinha e botar a conversa em dia. Ele parecia mais triste. O som do bar tocou uma música que o fez parecer mais ainda e me disse que era a trilha sonora de seu namoro, “aquele do curso de direito”, me refrescou a memória, e me confessou, se esforçando para esconder a tristeza, que o casamento e o namoro haviam acabado, um logo em seguida do outro. Como eu previa, ele se apaixonara e me disse que já não sabia mais o que fazer. “Bem que você avisou, apartei em banda. Já viajei pra casa do caralho, pro cú do mundo, Caiado, e não esqueço...”
Sorri compassivo, ele levantou-se e foi ao banheiro. Ao voltar, pediu a conta, conversamos mais um pouco e nos despedimos.

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