quarta-feira, 27 de julho de 2022

Temos uma identidade nacional?


 Temos uma identidade nacional?


Pensando sobre como corrigir um erro pessoal ou coletivo fui desenvolvendo aos poucos um pensamento que exponho agora. 

A etapa fundamental é a tomada de consciência e clareza do erro. Vamos a um exemplo: o erro coletivo da discriminação racial. 

Comparando os Estados Unidos com o Brasil, pelo que me afigura, os americanos vem conseguindo corrigir este erro melhor do que nós, acho que por duas razões.

A primeira razão é a clareza com que a elite branca americana discriminava, e isto era sentido pelo discriminado com a mesma clareza. A violência moral de um apartheid onde o acesso a certos lugares era proibido ou a entrada era separada, e mais, a violência física com assassinatos cometidos pelo Estado, pela Ku Klux Klan, um grupo de  particulares tolerado pelo Estado. 

Certamente, a discriminação era um hábito imposto pela elite. Boa parte do povo talvez fosse contra e sentia-se impotente para reagir, mas foi desenvolvendo a consciência para aderir aos movimentos de revolta que, cedo ou tarde, explodiriam. 

A comunidade internacional também assistia a essas duas violências depondo contra o grande país que, contraditoriamente, autodefine-se como o mais democrata de todos.

Já entre nós, brasileiros, a discriminação é velada. Muita gente acha que nem discriminação temos. É, portanto, mais fácil argumentar e lutar contra uma violência clara do que contra uma velada. Quer dizer com isso que devemos esperar que venha a violência clara? Claro que não. Devemos ser perspicazes e ver com clareza  a violência, embora velada.

A segunda razão diz respeito à concentração das violências (moral e física) sobre uma minoria racial americana. O sofrimento fica concentrado numa minoria.

Enquanto aqui no Brasil, o sofrimento fica meio diluído em uma maioria negra e parda. O sofrimento concentrado é mais potente do que o diluído.

Por essas duas razões, noto que os americanos estão corrigindo melhor do que nós este erro. Lá, a maior presença do negro em posições destacadas é notória. Há muitos artistas consagrados, posso destacar grandes pianistas de jazz, âncoras de programas de televisão,  vários juízes e um presidente da república. 

Dado este exemplo, agora vou ao ponto onde eu queria chegar, o título do texto: Temos uma identidade nacional?

Penso que se temos, está avariada, rachada pelo mandatário que aí está através de suas idiossincrasias e toda sorte de preconceitos com os quais seu eleitorado se identificou, saiu do armário e assumiu com orgulho e violência. É a extrema direita manifestada como horda de malfeitores, causadores de tumultos porque nem partido criaram para expor suas esdrúxulas ideias, como tem a advogada e política francesa Marion Anne Perrine Le Pen, mais conhecida como Marine Le Pen,  com o seu Rassemblement National (Encontro Nacional). 

O essencial colocado por mim é admitirmos com clareza que há um erro, a rachadura na identidade nacional, e a questão que devemos nos fazer é se ela está ou não num ponto de irreversibilidade. De minha parte, quero acreditar que não, que ainda podemos corrigir este erro, que foi uma perigosíssima fratura que pode desembocar em nossa destruição como nação.

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