Fonte de alegria

 Fonte de alegria

A beleza se mantém

revela-se claramente,

isto é bom! Ontem, porém

seu semblante sorridente

o olhar que sobreviveu

era o que eu admirava

e vi que o tempo me deu

muito mais que eu esperava. 

Peças me pregou a vida

dissabores, pandemia

parecia sem saída 

quando a peste persistia. 

No entanto, a força acontece

brotando sabedoria

que um amor antigo tece

fonte de intensa alegria!

*No dia 28 de março de 2025, sexta-feira, saímos para jantar no restaurante Aquarela que a Gilda já conhecia e quis que eu conhecesse. Ela estava especialmente bem, conversadora e sorridente e isso me agradava. Ouvia-a com atenção e, ao mesmo tempo, me ocorria a lembrança dela ser sobrevivente da covid, e isso me emocionava. Ao final, descemos por uma escada que dá num jardim onde se situa essa escultura. Pedi para que ela posasse para uma foto. Já no dia seguinte, olhando a foto tive a inspiração para escrever esse poema.

Erroll Garner

Erroll Garner foi o pianista de jazz que mais ouvi. Hoje, embora menos, novos talentos vão surgindo, continuo ouvindo e, melhor ainda, vendo no youtube. Foi no youtube que notei que ele era bem baixinho e em alguns vídeos ele aparece sentado sobre lista de telefones para ficar melhor posicionado em relação ao teclado. 

Uma vez li que sempre que gravava, Erroll Garner suava muito, levava várias mudas de camisas para o estúdio e bebia muita água. Ontem, por acaso, vi esta foto dele, noto um copo sobre o piano, que sempre observei na capa do LP Solitaire guardado há anos, e logo a ela me remete. Retiro o disco do gavetão e constato com surpresa que o copo é o mesmo. Do detalhe da foto fizeram a capa do LP. 

O russófilo

O russófilo.

Pela Rússia tenho uma queda 

música, literatura…

e logo minha alma azeda

se a ela é hostil uma criatura. 

O oposto também sucede

se a criatura gosta dela

o afeto se forma, e adrede

a amizade a gente sela. 

Fez um bom amigo artista

uma gravura e me doou. 

Quando a vi, encheu-me a vista:

“Uma cúpula de Moscou!”

Até cri que o bom amigo

era também um russófilo

empatia é raro artigo

amei logo traço e estilo.

O olho vê o que a alma dita

vejo a igreja de um mosteiro

russo. Erro, é que a bonita

Nave é no Rio de Janeiro. 

A praia da Carmem

 

A praia da Carmem

Filhos da burguesia não estão aqui. Jovens de no máximo vinte anos de idade, oriundos da comunidade do Poço das Dragas. A primeira vez que vim, abordei um casal que assim me recebeu: diga, “paizinho" (sorri porque fui tratado à maneira russa), e perguntei o nome da praia. Frequentam a praia da Carmem de um modo diferente dos filhos da classe média (belos, arrogantes, individualistas, narizes empinados). Há várias rodas de garotos e garotas batendo bola, todos misturados. Casais de todos os gêneros namorando sem serem incomodados, grupos que fumam, banhistas, o que ressalta aos meus olhos é a ausência de poses, das máscaras sociais, são mais espontâneos. Tenho também a impressão de que são subempregados de poucos estudos, mas se divertem, aproveitam suas juventudes numa parceria dos excluídos das benesses do dinheiro paterno, e incluídos num território que é claramente deles.

A rotina

A rotina

Viajar não é minha praia

gosto de estar por aqui

embora por vezes saia

e até, gostar, consegui. 

Tenho cá os meus receios

de voar, há quem não os tenha

mas também tenho os meus meios

de não pôr neles mais lenha. 

Sob o sol de Fortaleza 

pela beira-mar pedalo

a saúde é minha empresa

o azul do mar meu regalo.

Após pedalar, nadar...

é isto que amo fazer

usufruir do nosso mar

e ao voltar, banhar-me e ler. 

A rotina que hoje tenho

há tempo que quero ter

sempre deixei dela senho

para quem quisesse ver. 

Xadrez geopolítico

 Xadrez geopolítico

Mais uma partida

perde os States que fica

bem Putin da vida

O mafioso

O mafioso

Trump quer ser um clone

do Poderoso Chefão

dom Vito Corleone

Flor do Caribe

Flor do Caribe

O poeta, certeiro,

diz porque mora em Havana:

"Ah, cheguei primeiro!" 

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Luz da Vida

Luz da Vida

Proclama a boa brisa

ao vovô a Luz da Vida:

Bem-vinda Ana Luiza! 

72 anos.

72 anos

Fiz hoje setenta e dois

entre angústia e bom humor

ainda tenho saúde, pois

mas de barro é o andor.

Certa solidão senti

não estavam todos comigo

uma parte não mora aqui...

já aceitei, Deus é testigo!

Apenas senti a ausência

nora, netas, genro e filha

queria intuir a excelência

da aliança que um homem trilha.

O Cérbero / Semelhança

O enigmático

O enigmático

 

O olhar sibilino

a arte é marcial do extra

sensorial felino.