O blues é uma forma musical de 12 compassos, “base do jazz”, como disse o cantor Jimmy Rushing. Há uma faceta do blues que gosto muito, explicada no livro Jazz – das raízes ao Rock, de Lillian Erlich: o negro estava habituado a enfrentar a desgraça com estoicismo. Ele possuía a grande força da esperança, radicada nos ensinamentos da religião cristã. Era também capaz de rir de suas próprias dificuldades, de clarear a mais profunda escuridão com lampejos de humor e sabedoria irônica. Esse estado agridoce do espírito, o contraste de sentimento, o riso inesperado davam ao blues seu grande atrativo emocional. Entre as pessoas que o inventavam, o blues agia como uma válvula de escape dos sentimentos tanto do cantor quanto da platéia. Eis um exemplo de um antigo blues, cuja tristeza é seguida de rápida recuperação:
sábado, 17 de julho de 2021
Quarentena em blues
I’m goin’ down to the railroad train and lay my head on the track
I’m goin’ down to the railroad train and lay my head on the track
But if I see the train coming, I’m gonna jerk it back.
traduzindo:
Irei até a estrada de ferro e porei minha cabeça sobre o trilho
Irei até a estrada de ferro e porei minha cabeça sobre o trilho
Mas se eu vir o trem se aproximar, eu a puxarei de volta.
Além das 12 linhas, uma para cada um dos 12 compassos do blues, eu quis dar ao meu poema este espírito agridoce, cantando a tristeza da quarentena, mas com um final seguido de rápida recuperação, já que morrer é pior. O toque de humor está na expressão “abotoar o paletó”.
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