sábado, 17 de julho de 2021

Quarentena em blues

O blues é uma forma musical de 12 compassos, “base do jazz”, como disse o cantor Jimmy Rushing. Há uma faceta do blues que gosto muito, explicada no livro Jazz – das raízes ao Rock, de Lillian Erlich: o negro estava habituado a enfrentar a desgraça com estoicismo. Ele possuía a grande força da esperança, radicada nos ensinamentos da religião cristã. Era também capaz de rir de suas próprias dificuldades, de clarear a mais profunda escuridão com lampejos de humor e sabedoria irônica. Esse estado agridoce do espírito, o contraste de sentimento, o riso inesperado davam ao blues seu grande atrativo emocional. Entre as pessoas que o inventavam, o blues agia como uma válvula de escape dos sentimentos tanto do cantor quanto da platéia. Eis um exemplo de um antigo blues, cuja tristeza é seguida de rápida recuperação:


I’m  goin’ down to the railroad train and lay my head on the track
I’m  goin’ down to the railroad train and lay my head on the track
But if I see the train coming, I’m gonna jerk it back.

traduzindo:

Irei até a estrada de ferro e porei minha cabeça sobre o trilho
Irei até a estrada de ferro e porei minha cabeça sobre o trilho
Mas se eu vir o trem se aproximar, eu a puxarei de volta.

Além das 12 linhas, uma para cada um dos 12 compassos do blues, eu quis dar ao meu poema este espírito agridoce, cantando a tristeza da quarentena, mas com um final seguido de rápida recuperação, já que morrer é pior. O toque de humor está na expressão “abotoar o paletó”.



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