sexta-feira, 29 de dezembro de 2023
O comandante
quarta-feira, 13 de dezembro de 2023
Apresentação do livro Álbum dos Netos
Apresentação
Este é um pequeno livro como pequenos são os personagens a quem o dedico. Os três, crianças de no máximo cinco anos, são o objeto de toda a minha atenção. Como disse a escritora, mística e filósofa francesa Simone Weil, “A atenção é a forma mais pura e rara de generosidade.”
A intenção de escrevê-lo foi para que os três netos o leiam quando souberem ler. Há aqui dezesseis poemas, cinco para cada um dos netos, e o último, O Registro do Belo, é uma observação do meu processo criativo, inspirado naquilo que enche meus olhos; e dois contos, um deles, Como Se Fosse um Cachorrinho, se refere a uma criança sensível e inteligente cuja atitude provocou mal-entendidos; o outro, Lulusitânea, é um conto de fadas onde menciono os três e, no final, se verá, também a dedicada avó.
Outra intenção foi produzir beleza, como belos são os três netinhos e os núcleos onde nasceram, suas mães e seus pais, todos médicos cujas dedicações à profissão refletem as suas belezas interiores que tem a nossa admiração – avós “não corujas”, senão sob pena dos eventuais leitores adultos desdenharem: “coisas de avós corujas!”. Não somos. Avós saudosos, sim, já que os vemos pouco, as duas netas moram em Brasilia, as vemos semestralmente, o neto, semanalmente.
A avó me questiona: Por que objeto de "minha atenção” e não de "meu amor” ? Simone Weil me socorre com a definição de atenção, na primeira epígrafe, além de que o amor é algo tão sublime e divino que penso que o que mais se assemelha a ele é o autêntico sentimento da maternidade, incondicional, característica que o da paternidade talvez não tenha, sem certeza nenhuma, porque talvez tenha. Miguel de Cervantes, na segunda epígrafe, também me socorre, e os poemas A Força do Amor (I, II e III) expressam a minha semelhança com o pensamento dele e a prudência em concordar com o que a avó reivindica.
Boa leitura.
Carlos HP Vieira.
Como se fosse um cachorrinho
Como se fosse um cachorrinho.
Diz-se que, com excessão da saudade, o que os olhos não veem o coração não sente.
Durante a semana, a mulher de meia idade, pouco sensível às questões sociais e de direitos humanos, horrorizou-se com o que viu e seu coração sentiu: apertado, palpitou tristemente.
Toda manhã, ao abrir a janela para arejar e iluminar seu quarto com os primeiros raios de sol da aurora daquela terra da luz , ela via toda a orla marítima, de uma ponta à outra. A vista era encantadora e a animava, mas naquela semana sentiu embaraço: o que significa aquilo? Absurdo… como se fosse um cachorrinho! O que viu chocava qualquer um portador de alguma sensibilidade. Mas ela se recolhia para escovar os dentes, tomar uma chuveirada, passar os cremes, vestir-se e dirigir-se à mesa da sala de refeições para tomar o café da manhã.
Depois do desjejum frugal, ligava para uma amiga e contava indignada o que via. A amiga sugeriu que denunciasse à polícia, mas ela relutava, nunca foi assertiva, até que um dia, pensou: como ninguém vê isso? Por que ninguém faz nada? Então percebeu que ela própria estava entre os indiferentes e resolveu ligar para a polícia:
– Olha, eu gostaria de fazer uma denúncia, de informar um fato que tem se passado aqui na calçada da avenida perto de onde moro, às primeiras horas da manhã, quase que diariamente, mas eu gostaria de ficar anônima.
– Impossível, senhora , no anonimato não posso atendê-la, tenho que anotar o nome do denunciante porque pode ser uma denúncia falsa – disse o atendente.
Ela, sem assertividade nem coragem, desistiu e desligou o celular.
Do outro lado da rua, num prédio velho de quatro andares, morava um aposentado com seu filho, uma criança sensível e inteligente, que foram largados pela mulher jovem que queria aproveitar a vida enquanto era bonita.
Todo dia, o aposentado, depois de seus matinais afazeres higiênicos, abria a janela de seu quarto, fixava seus olhos no virente frescor de um esvoaçante cipreste do terreno defronte, admirava-o e, como se simbolizasse uma divindade natural, se benzia.
Já fazia uma semana desde que ele tentou demover seu filho de uma ideia que o deixava sem jeito, cheio de escrúpulos:
– Não, meu filho, por que isso?
– Porque sim.
– Porque sim não é resposta, você já tem seis anos e pode explicar melhor a razão.
A criança, pensativa, olha para o pai e vai até seu quarto procurar um papel, e o pai se dirige em busca de seus remédios para levar à mesa do café da manhã.
Já sentado, chega o filho com um papel que, dobrado, mostrava logo a seguinte ilustração:
O pai desdobra o papel e lê um poema de um poeta desconhecido:
Tal qualquer animal
As pessoas dizem “amo!”
os calangos, as rãs… não.
Da minha toca, reclamo:
Quem é afeito à destruição?
A pessoa acha que sabe
o que é o amor, mas faz guerra.
Em sua cabeça não cabe
a ideia e ela enfim se ferra!
Devasta todo o planeta
e se acha racional
melhor largar a trombeta
a baioneta letal
e se tornar de uma vez
por toda um ser natural
renunciando a estupidez
como qualquer animal
que nunca falou de amor
mas com cio se acasala
luta, sofre, sente dor
e sua cria lambe e embala.
O bicho quer bem viver:
dormir, procriar, cuidar
dar à cria o de comer
e à terra se harmonizar.
A criança olha o pai que permanece calado, o traz à realidade e explica-se:
– Eu vi aquela figura, achei bonita por causa dos bichinhos e pedi a professora para me explicar o que estava escrito. Ela me disse que era uma poema, leu e me explicou. Por isso que bem cedinho, eu quero passear com você de coleira, aquela que a mamãe botava em mim no shopping para eu não me perder, como se fosse um cachorrinho porque eu não quero fazer guerra que mata crianças e mulheres.
Meu filho
Meu filho…
Inspirado no texto do Advento escrito por Pe. Eugênio que você nos enviou, gostaria de chamar a atenção de dois pontos;
✅ Despertar para assumir a vida com consciência lúcida.
Despertar para não se perder nesse par de obsessões: dinheiro e álcool.
Você é médico vocacionado, mas só se compara no que diz respeito à questão financeira, sendo um dos únicos, da família e dos amigos próximos, aquele que é elogiado entre os pares.
✅ Alargar espaços em sua vida, expandir seu coração, aliviar sua agenda, realizar gesto de serviço que lhe faz crescer em comunhão.
Alargar seu coração, a partir de sua linda família, com compromisso amoroso.
Três erros crassos:
✅ comparação com os outros.
✅ álcool. (Solução??? Não é!!!)
Ao dizer “vocês não sabem pelo que estou passando”, você está tentando solucionar com algo que, definitivamente, não soluciona.
A meu ver, o álcool só serve para quebrar o gelo, entre as pessoas, numa festa, degustado em pequenas quantidades. Você bebe só e ligeiro, o que acaba em grandes quantidades.
✅ baixo grau de comprometimento.
Concluo:
depende de você! Uma vez eliminados esses erros, fará você sentir uma melhora substancial na qualidade de vida.
Beijo do seu pai.
segunda-feira, 4 de dezembro de 2023
Tal qualquer animal
As pessoas dizem “amo!”
os calangos, as rãs… não.
Da minha toca, reclamo:
Quem é afeito à destruição?
A pessoa acha que sabe
o que é o amor e faz guerra.
Em sua cabeça não cabe
a ideia e ela enfim se ferra!
Devasta todo o planeta
e se acha racional
melhor largar a trombeta
a baioneta letal
e se tornar de uma vez
por toda um ser natural
renunciando a estupidez
como qualquer animal
que nunca falou de amor
mas com cio se acasala
luta, sofre, sente dor
e sua cria lambe e embala.
O bicho quer bem viver:
dormir, procriar, cuidar
dar à cria o de comer
e à terra se harmonizar.